Eduardo Ramos (Diário)
No seu centenário, a Gráfica Pallotti de Santa Maria coleciona e confecciona histórias por meio das milhares de revistas e livros já impressos. Em tempos de produção mais manual, eram cerca de 120 mil livros por mês, hoje, são por volta de 340 mil exemplares. Sendo a segunda mais antiga do Estado, tem um time que acompanha quase 50 anos de mudanças, e têm como desafio se manter inovadores, no tempo do online.
Neste domingo (23), marca a data dos 100 anos, que começou com folhetos entregues nas missas dominicais, e hoje é a segunda casa de profissionais como da atendente Denise Maria Dorneles Nogueira, 59 anos, que presta serviço há 35, desde se estágio na faculdade de Comunicação Visual:
– Nós temos uma longa história com a Pallotti, e praticamente a minha vida profissional foi aqui dentro. Fiz estágio aqui dentro, fui ficando. Trabalhava na época na parte de artes. Quando mudamos de uma fase tipográfica para a offset, eu fui para o atendimento no meio campo entre o processo interno e o cliente.
A experiência de ter um livro
A cada dia, novas histórias passam pelo maquinário da Gráfica Pallotti, desde o material digital enviado pelo cliente, passando pela sua impressão, até o acabamento escolhido entre as suas mais diversas formas. Entre livros, revistas, também, catálogos, apostilas, há o tipo e a quantidade de folhas, o acabamento em uma capa dura ou não, em material envernizado, fosco ou brilhante. Quem trabalha com isto acredita que estes são alguns dos componentes que constroem a experiência diferenciada de ler um material impresso. Ponto destacado pelo Padre Alexsandro Miola, 38 anos, diretor da Gráfica, quando o assunto é o futuro do segmento:
– Sempre digo que o mercado, o papel e o impresso tem sofrido também com a ascensão da tecnologia, mas é uma realidade que sempre está presente. A experiência que fazemos com o papel é sempre diferente do que o digital. E temos que com as adequações dos novos tempos, o papel ainda vai ter ainda seu espaço na sociedade.
Para além de abastecer prateleiras, a leitura compartilhada é um dos caminhos prósperos vistos por Alexsandro, por meio de espaços em que várias pessoas leem um livro e, depois, discutem sobre o seu conteúdo, os clubes de leitura:
– Um aspecto interessante deste tempo é o grande crescimento de clubes de leitura. É um mercado que se abriu. A pandemia talvez tenha acelerado um pouquinho isto. E nós estamos então com nossa estrutura atendendo diversos clubes de leitura do Rio Grande do Sul e outros a nível nacional.
Na gráfica que já imprimiu obras de grandes editoras e inúmeros clássicos da literatura, como Dom Casmurro, e Uma Breve História da Humanidade, trabalha a mais de 30 anos Sidnei Ceron, 48 anos, um dos 100 funcionários da empresa. Ele é o primeiro a ver o material impresso, que até então só estava em um arquivo de texto, e passa a ser uma pilha de folhas.
– Foi o meu primeiro emprego. Vim do colégio, estudava ali e fui crescendo aqui dentro da empresa. Já trabalhei na coladeira, fui para a chapa e depois para a impressão, acho que já faz 28 anos – relembra Ceron.
No Museu Vicente Pallotti, anexo ao Complexo Pallotti, onde fica a gráfica, em Santa Maria, há exemplares originais das máquinas usadas para impressão desde a sua fundação. Além disso, a gráfica possui um acervo das impressões realizadas nestes 100 anos.
Produção e reconhecimento
- A Gráfica Pallotti tem um parque gráfico de aproximadamente 6.000m²
- A sua estrutura, permite produzir, além de livros, também revistas, catálogos, apostilas, entre outros tantos impressos
- A capacidade média produtiva é de 340 mil livros por mês, equivalente a 4 milhões de livros por ano
- Atendem editoras em todo o país, principalmente Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e outros estados até mais longínquos do norte, nordeste e centro-oeste
- Atende também universidades, escolas, cursos pré-vestibulares, empresas, autores independentes, clubes de leitura, e outras instituições de diversos segmentos
- Atualmente, a gráfica conta com um quadro funcional de mais de 100 colaboradores.
- A história começa em 1923, no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Vale Vêneto, hoje distrito de São João do Polêsine
- A iniciativa da criação da gráfica foi do padre Rafael Iop. Uma de suas criações era a revista missionária
- Foi em Restinga Sêca que o padre descobriu uma tipografia pequena e simples, que se resumia a uma caixa com 15kg de tipos, formas e uma prensa manual
- Instalou-a em Vale Vêneto e começou a produzir folhetos, entregues nas missas dominicais
- A partir desses folhetos nasceu a revista Regina Apostolorum (hoje Revista Rainha dos Apóstolos) e, com ela, a Gráfica Pallotti
- Ela funcionou por aproximadamente 10 anos em Vale Vêneto
- Em 1934, a pequena tipografia foi transferida para Santa Maria e incorporada ao complexo do Patronato. A Gráfica atua no mesmo endereço desde então